quinta-feira, 5 de fevereiro de 2009

Pensar não adianta nada

Eu devia estar contente porque eu tenho um emprego, posso me matricular numa universidade que com certeza foi feita pra ricos, sou o dito cidadão quase respeitável e ganho uma merreca por mês.
Talvez eu devesse ser normal. Levantar de manhã, tomar café e banho, escovar os dentes e bater o ponto e fazer minhas tarefas burocráticas e almoçar e trabalhar direitinho sem destaque nem advertências e bater o ponto e ir embora e ver novela e dormir e acordar e seguir com toda essa baboseira para o todo sempre a caminho de mais uma vida disperdiçada.
Acho que eu só queria ser comum agora. Não me preocupar com o bem das pessoas que eu nem conheço. Não me preocupar com colegas. Nem com as pessoas queridas que me farão falta porque a convivência provavelmente diminuirá geometricamente. Pessoas que me ensinaram um monte de coisas. Pessoas que deram risada comigo dos fatos são absurdos/engraçados/tristes porque não podemos melhorar o que a gente quer ou gostaria de melhorar.
Talvez eu não deva estudar; foi apenas mais uma peça aplicada pelo Destino. Talvez eu nem sirva pra isso mesmo. Afinal, tem tanto doutor por aí, com menos da minha idade. Tantos outros bacharéis ou mestrandos ou aspirantes a uma vida acadêmica que não se sentem "dignos" de serem chamados de Mestres ou de Doutores por acharem que esse tipo de conhecimento ou título só devia ser dado pra alguém que realmente viveu e tem a bagagem para tal: tanto a acadêmica quanto aquela que a gente chama de extra-classe. Talvez eu só deva cumprir o meu papel nada especial e me conformar com tudo o que acontece.
Tenho certeza já há muito de que quando deram o New Game da minha vida escolheram o modo Very Hard. Por que não podia ser mais fácil? Só um pouquinho. Eu não queria um modo de trapaça. Só queria que fosse um pouquinho mais fácil. Não muito. Só um pouquinho.
Pode ter sido um anjo safado que veio quando eu nasci.
Tô cansado. Tá foda.
Mas eu dô um jeito. Sempre deu certo, né. Hora dessas eu me arrumo.
Espero que me entendam. As pessoas de quem gosto, que andam por perto, que convivem comigo: me desculpem. Às vezes eu sou um chato. Não é por mal. Acho que é por pensar demais. E eu sempre me fodo porque penso demais. Pensar não adianta nada. Pra quê? Ninguém quer que gente como eu pense. Gente como eu tem que entender que não manda nada. Talvez, se eu tiver sorte, alguém roube alguma idéia minha e faça bom uso dela. E receba todos os méritos, é claro. Ainda assim vou ficar feliz já que, afinal, gente como eu quando pensa, pensa para o bem dos outros.
Tudo tri então. Não queria incomodar.
Tô bem. Só queria escrever um pouco.
Té.

segunda-feira, 2 de fevereiro de 2009

Mesa de família


Sábado à tarde chuvoso em Jardim Atlântico.

No centro da mesa, um pote cheio de lápis coloridos, maravilhosos.

Ao redor da mesa, 6 adultos brincavam de colorir, de criar ou apenas curtir tudo isso.

Heca, dona da casa, com seus versos brotando enlouquecidos, escrevia uma nova letra para uma música de Chico Buarque que mereceu um dos prêmios da "XXVIII Barrifórnia da Canção Familiar Barro-pretense".

Paula estudava concentrada em seus livros de Medicina, com lápis a colorir suas informações em destaque.  

Dois desenhos foram coletivos. Maria e eu alternamos os riscos, viagens, papéis e cores para criar sem temer interromper a idéia uma da outra. Não podíamos ter medo nem pena de estragar o que já estava feito. Cada traço era uma novidade e dava asas a novas histórias que nunca terminavam, não fosse por nossas barrigas que exigiram o encerramento da atividade para satisfazê-las.

Foi uma experiência supernova pra mim. Nunca tinha brincado de desenhar. Pra não dizer nunca, acho que devo ter feito isso no Jardim de Infância. 

Márcia dizia não saber desenhar e fez um desenho supercolorido e bonito. Saiu de fininho, deixou a arte ali e nem disse nada.


Joana era a mais familiarizada... com desenvoltura começou a traçar linhas que se tornaram suaves ondas que foram preenchidas com um colorido intenso. De cada cantinho arredondado surgiam flores, folhas, borboleta e, no meio de toda beleza, uma menina sentada que vivia tudo aquilo com todos os seus sentidos.

Esta menina surgiu para fazer parte da minha vida. Ela me acompanhará em minha casa, todos os dias.

Bem-vinda! 





domingo, 1 de fevereiro de 2009

Fora da ordem


Amigos bizarros:


ela um punhado de lápis de cor e sente vontade de comê-los;


ele faz do sorvete uma aquarela.


Preciosos

Se encontram numa sorveteria. Ponderam o que é mais importante dos seus afazeres. Um de nós está de passagem na cidade e temos pouca chance de charlar.
Temos algumas tarefas na rua a cumprir. Ok, vamos todos juntos.
Calor de mais de 30º C. De tardezinha. O que fazemos agora?
Um pulo na piscina do sítio, antes que o sol se ponha. 
Uma de nós precisa ir. Outra nos encontra e junta-se a nós.
Ela tem 26 anos, recém, há pouco mais de um ano, fez um implante que a permite escutar.
O sítio está bonito. A água está gostosa. As brincadeiras, divertidas. A companhia, maravilhosa.
"Que som é este?" Pergunta a menina que está descobrindo coisas que até então não tinha ouvido.
E vamos para um mundo de descobertas, onde ouvimos, mostramos, cheiramos, tateamos no escuro para achar o caminho de volta no mato.
Pausa no andar para apenas sentir.  
Cigarras, grilos, cachorros, sapos. 
Vagalumes, pirilampos, lua crescente, estrelas.
Mãos dadas, segurança, confiança, paz. 
Pessoas do bem, pessoas especiais. Momento mágico.
Obrigada! Precisamos repetir!